sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sinfonias de Brahms: uma interpretação excepcional




Das muitas interpretações que já ouvi das quatro sinfonias de Brahms, a melhor é, de longe, a de Bruno Walter, com a orquestra de Columbia. A Sony disponibiliza-as em 3 CDs (ver aqui: 1, 2 e 3), com algumas obras extra à mistura (as variações sobre um tema de Haydn e a abertura para festival académico, no primeiro; a abertura trágica e a canção do destino, no terceiro). Walter mostra-se, aqui, como um excelente maestro romântico, sendo de pasmar a mão que tem na orquestra, perfeitamente perceptível. A gravação é excelente, muitíssimo bem recuperada, não dando indícios de ser tão antiga (entre 1959 e 1961). São, sem dúvida, dos melhores CDs que tenho.
Berlinense judeu nascido em 1876, após um fugaz início como pianista, Bruno Walter começou a sua carreira de maestro na ópera de Breslau, pela mão de Mahler, em 1896, altura em em que deixou de usar o apelido Schlesinger, que denunciava as suas origens judaicas. Passou depois pela Eslováquia, pela Letónia, regressou a Berlim, rumou a Viena, onde se manteve durante o início do século XX, tendo-se naturalizado austríaco. Em 1913 seguiu para Munique e, em 1923, partiu para os Estados Unidos. Entre 1924 e 1933 continuou a sua carreira de sucesso na Europa, mas, nesse ano, o partido nazi começou a boicotar-lhe algum trabalho. Naquele ano, mudou-se para a Áustria. Em 1938, foi para França, cuja cidadania adoptou, após a anexação da Áustria pela Alemanha. Em 1939, partiu, finalmente, para os Estados Unidos, onde viveu até ao fim dos seus dias. As melhores gravações (refiro-me apenas à qualidade sonora) de toda a sua discografia são as dos últimos anos, com a Orquestra Sinfónia de Columbia, embora haja, em MONO, interpretações fabulosas de Mahler (incluindo uma notável primeira gravação que fez da 9ª sinfonia). De entre elas, destacam-se estas gravações de Brahms. Achei curioso encontrar recomendação semelhante na página de um melómano chamado Roland Herrera.
Walter foi também um compositor, durante algum tempo, tendo produzido duas sinfonias, um quarteto, um quinteto, uma sonata, lieder e algumas obras corais.

Discografia de Bruno Walter:
Bach: St. Matthew Passion
Beethoven: Symphonies Nos. 1-9, with the New York Philharmonic, Vienna Philharmonic, Philadelphia Orchestra, and Columbia SO (multiple recordings made from the 1930s- 1960s)
Beethoven: Fidelio
Beethoven: Missa Solemnis
Beethoven: Violin Concerto (two recordings with Joseph Szigeti, one with Zino Francescatti)
Berlioz: Symphonie fantastique, with the NBC Symphony
Brahms: Academic Festival Overture, with the Columbia SO
Brahms: Symphonies Nos. 1-4, Schiksalslied, Tragic Overture, and Haydn Variations with the Columbia SO, Vienna Philharmonic, and New York Philharmonic (two complete symphony cycles: New York Philharmonic, 1953 and Columbia Symphony Orchestra, 1959-61)
Bruckner: Symphonies Nos. 4, 7 and 9, with the Columbia SO
Dvorak: Symphonies Nos. 8 and 9, with the Columbia SO
Haydn: Symphony Nos. 86, 88, 92, 96, 100, and 102 (various orchestras, 1930s to 1950s)
Mahler: Symphony No. 9, (live) with Vienna Philharmonic, Jan 1938
Mahler: Symphony No. 9, with Columbia SO, 1961
Mahler: Symphony No. 1 (live) with the NBC Symphony Orchestra, 1939
Mahler: Symphony Nos. 1, 2, 5 and 9 with the Columbia SO
Mahler: Symphony Nos. 4, 5 with New York Philharmonic, 1945, 1947
Mahler: Adagietto from Symphony No. 5 with the Vienna Philharmonic (1938)
Mahler: Das Lied von der Erde, with the Vienna Philharmonic, Kerstin Thorborg, and Charles Kullman (1936)
Mahler: "Ich bin der Welt abhanden gekommen" with Kerstin Thorborg and the Vienna Philharmonic (1936)
Mahler: Das Lied von der Erde with the Vienna Philharmonic, Kathleen Ferrier, and Julius Patzak (1952)
Mahler: Das Lied von de Erde with the New York Philharmonic, Mildred Miller, and Ernst Haefliger (1960)
Mendelssohn: Violin Concerto with Nathan Milstein and the New York Philharmonic (1945)
Mozart: Le Nozze di Figaro, at the 1937 Salzburg Festival
Mozart: Symphonies Nos 35, 36, and 38-41, with the Columbia SO
Mozart: Symphonies Nos. 38 and 41 with the Vienna Philharmonic (1936 and 1938 respectively)
Mozart: Symphony No. 39 with the BBC Symphony Orchestra (1934)
Mozart: Symphony No. 40 (with the Vienna Philharmonic and Columbia Symphony orchestra, 1930s and 1950s)
Mozart: Eine kleine Nachtmusik (two recordings)
Mozart Piano Concerto No. 20 (pianist and conductor)
The Birth of a Performance (Rehearsals and a complete performance of Mozart's Symphony No. 36) with the Columbia Symphony Orchestra
Mozart: Don Giovanni, with the Metropolitan Opera
Mozart: The Marriage of Figaro, with the Salzburg Festival 1937
Schubert: Symphonies Nos. 5, 8 (7) in b "Unfinished," 9 (8) in C, "Great C Major" - various recordings in Europe and US
Schumann: Symphony No. 3, "Rhenish," with the New York Philharmonic (1940s)
Smetana: The Moldau
J. Strauss, Jr. Waltzes, polkas, overtures, etc. with the New York Philharmonic and Vienna Philharmonic (1930s and 1950s)
R. Strauss: Don Juan,
Verdi: La Forza del Destino
Wagner: Meistersinger Overture
Wagner: Prelude and Liebestod from Tristan und Isolde
Wagner: Die Walküre Act I and portions of Act II in Vienna
Wagner: Siegfried Idyll - Vienna Philharmonic, 1930s, and Columbia Symphony, 1950s
Wagner: "Im Treibhaus" (Walter on piano accompanying Flagstad).


Mais informação:
-
Página da wikipedia sobre Bruno Walter.
-
Página da Fundação em Memória de Bruno Walter.
-
Biografia de Bruno Walter, "Bruno Walter: A World Elsewhere", por Erik Ryding e Rebecca Pechefsky.
-
DVD "Bruno Walter - The Maestro, The Man".
-
Análise detalhada da discografia de Bruno Walter, por um fã japonês, Masayosci Takemoto.

Vídeo:
-
Walter ensaiando o último andamento da 2.ª sinfonia de Brahms (a não perder! - sigam o link, porque o YouTube não deixa colocar este vídeo directamente no blog).

terça-feira, 7 de agosto de 2007

"Eu é mais judeus", diz... Hitler?!

Foram recentemente descobertos discos de Adolf Hitler, noticia o Times Online. E o que se encontrava lá? Wagner? Claro, mas isso não é notícia. O mais interessante foi encontrar interpretações e obras de músicos judeus e russos. Nos compositores, encontram-se Tchaikovsky, Borodin e Rachmaninov. Uma interpretação do concerto para violino de Tchaikovsky que Hitler supostamente apreciava era do violinista judeu Bronislaw Huberman (fundador da Orquestra da Palestina, que deu origem à Orquestra Filarmónica de Israel). Também a sonata n.º 8 de Mozart apareceu numa interpretação do pianista judeu Artur Schnabel.

Links:
-
Notícia do Times Online.
- Página da wikipedia sobre Artur Schnabel.

Documentação - pequenos vídeos de Schnabel e Huberman.




segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Beethoven - Concertos para piano 1 e 4 - Lang Lang - Cristoph Eschenbach - Orquestra de Paris


Já o ouvi, de fio a pavio.
É um disco que vou ouvir mais vezes, com uma interpretação muito boa de Lang Lang.
Continuo a não perceber as razões do desagrado de alguns com as interpretações de Lang Lang (leiam-se, por exemplo, as críticas aos seus discos pelos leitores da Amazon). A principal acusação de que é alvo refere um nível técnico elevado que não encontra paralelo numa compreensão intelectual-cultural-racional da obra. No fundo, técnica sem alma. Ora, foi precisamente a percepção contrária que, desde as primeiras audições, me surpreendeu no pianista. Parece-me - ainda que, ocasionalmente, ceda a algum show-off (e quantos consagrados empolgados não o fizeram?) - um intérprete que pensa as obras e, à sua maneira, sente-as muito para além da técnica. Neste particular, continua a convencer-me bem mais do que o outro consagrado chinês, Yundi Li.
Não pode dizer-se que este seja um disco para cinco estrelas, mas, quanto a mim, são quatro estrelas seguras. Quanto à técnica, continuamos a encontrar a força, o som límpido, "as notas todas", claras e definidas e a aparente simplicidade dos segmentos de execução mais complexa.
Quanto ao "resto", e especialmente no que diz respeito ao quarto concerto (o mais difícil de interpretar), não será, eventualmente, a interpretação mais madura e profunda que já ouvi, mas é suficientemente interessante para vermos nela algo mais do que a demonstração técnica de um menino-prodígio.
A comprar. A ouvir. A repetir.

sábado, 4 de agosto de 2007

E já que falamos do 5.º Brandeburgo...

...podemos dar um salto olímpico de estilo e ouvi-lo em versão jazz, pelo famoso trio Jacques Loussier, ao vivo em Munique, em 1989. Durante muito tempo, pensei que Loussier era um pianista de jazz convertido a alguns sons da música clássica. Curiosamente, é o contrário: um pianista de formação clássica rendido à transfiguração da música para versões jazz.

Link:
Webiste oficial de Jacques Loussier.

A formação que toca aqui (Piano: Jacques Loussier; Contrabaixo: Vincent Charbonnier; Bateria: André Arpino) não é a original do agrupamento de Jacques Loussier - denominado "Play bach Trio" -, que data de 1959 e incluía inicialmente Pierre Michelot em contrabaixo e Christian Garros na bateria. Este trio separou-se em 1978. A formação actual data de 1985.

Ambos os "trios Loussier" deixam muitos discos:
2006 - Bach: The Brandenburgs (Telarc CD-83644)
2005 - Mozart Piano Concertos 20/23 (Telarc CD-83628)
2004 - Impressions of Chopin's Nocturnes (Telarc CD-83602)
2003 - Beethoven: Allegretto from Symphony No. 7: Theme and Variations (Telarc CD-83580)
2002 - Handel: Water Music & Royal Fireworks (Telarc CD 83544)
2001 - BAROQUE FAVORITES. Jazz Improvisations: Works by Handel, Marais, Scarlatti, Marcello, Albinoni (Telarc CD 83516)
2000 - PLAY BACH No 5 (DECCA 159 194-2)
2000 - PLAY BACH AUX CHAMPS ELYSEES (DECCA)
2000 - PLAY BACH No 4 (DECCA 157 893-2)
2000 - PLAY BACH No 3 (DECCA 157 892-2)
2000 - PLAY BACH No 2 (DECCA 157 562-2)
2000 - PLAY BACH No 1 (DECCA 157 561-2)
2000 - PLAYS DEBUSSY (Telarc CD 83511)
2000 - BACH'S GOLDBERG VARIATIONS (Telarc CD 83479)
2000 - BACH BOOK ANNIVERSARY (Telarc CD 83474) Compilation "Play Bach 93"
1999 - RAVEL'S BOLERO (Telarc CD 83466)
1998 - SATIE (Telarc CD 83431)
1997 - JACQUES LOUSSIER PLAYS VIVALDI (Telarc CD 83417)
1996 - LUMIERES "Messe Baroque du 21ième siècle" (Note productions CD 43707)
1995 - JACQUES LOUSSIER PLAYS BACH (Telarc) Compilation "Play Bach 93" et "Les Thèmes en Ré" (Note Productions)
1994 - PLAY BACH AUJOURD'HUI Les Thèmes en Ré (Note Productions CD 437000-4)
1993 - PLAY BACH 93 Volume 1 (Note Productions CD 437000-2)
1993 - PLAY BACH 93 Volume 2 (Note Productions CD 437000-3)
1990 - LUMIERES "Messe Baroque du 21ième siècle" (DECCA CD 425217-2)
1988 - The Greatest Bach Partita No.1 in B Flat Major BWV 825 - Orchestral Suite No.2 in B Minor BWV 1067 (Limelight CD 844 059-2 Decca Record Company)
1988 - BRANDENBURG CONCERTOS (Limelight-Japan CD 844 058-2 Decca Record Company)
1987 - BACH TO BACH (Start CD Original Live in Japan SMCD 19)
1987 - JACQUES LOUSSIER LIVE IN JAPAN (King Record Japan CD original Live K32Y 6172)
1986 - BACH TO THE FUTURE (Start CD SCD2)
1985 - THE BEST OF PLAY BACH (Start STL6)
1982 - PAGAN MOON (CBS CB271)
1979 - PULSION SOUS LA MER (DECCA 844 060-2)
1979 - PULSION (CBS 84078)
1974 - JACQUES LOUSSIER ET LE ROYAL PHILARMONIC ORCHESTRA (DECCA PFS 4176)
1974 - JACQUES LOUSSIER AT THE ROYAL FESTIVAL HALL (Philips 6370 550 D)
1973 - JACQUES LOUSSIER TRIO "6 master pieces" (Philips 6321-100)
1972 - DARK OF THE SUN (MGM SE-4544ST)
1965 - PLAY BACH AUX CHAMPS ELYSEES (DECCA coffret 2 albums SSL40.148)
1964 - PLAY BACH No 5 (DECCA SSL 40.205 S)
1963 - PLAY BACH No 4 (DECCA SSL 40.516)
1962 - JACQUES LOUSSIER JOUE KURT WEIL (RCA 430-071)
1959 - PLAY BACH No 3 (DECCA SSL 40 507)
1959 - PLAY BACH No 2 (DECCA SSL 40 502)
1959 - PLAY BACH No 1 (DECCA SS 40 500)







quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Gould e as premonições de Olavo

Com um notório exagero - que só a amizade explica - o Olavo anunciou a abertura deste blog no Andróide Paranóide. Curiosamente, acertou num vídeo que me pareceia de presença obrigatória por cá: o quinto Brandeburgo, de Bach, interpretado pelo Glenn Gould.
Quem conhece a obra mas não esta interpretação e saliva já de curiosidade quanto à cadência do primeiro andamento pode passar já directamente para o segundo vídeo, que começa precisamente nesse ponto da obra.





"They Shall Have Music"

Quem um dia der de caras com este filme de 1939,

se, por acaso, for melómano, poderá ter a agradável surpresa de encontrar nada mais nada menos do que Jascha Heifetz, tocando a Introdução e Rondò Capriccioso de Saint-Saëns. Aqui fica o excerto em causa, para delírio (ou depressão) de qualquer violinista.




quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Um pack da Fantasia-Improviso op. 66, de Chopin

Junto aqui algumas interpretações diferentes da Fantasia-Improviso op. 66 de Chopin. Por ordem, estão ao piano:
- Rubinstein (será necessário dizer que a interpretação está muito boa?);
- Hofmann (idem, mas com aquele som de caixote da era mono);
- Tatiana Shebanova;
- Kissin; e
- Yundi Li.

Encontram-se outras no YouTube, mas a maior parte não é grande coisa, para além de haver bastantes amadoras (o arranque da peça apela ao show-off).

Para terminar, e já que falei da Naxos há dias, há boas gravações de Chopin, naquela etiqueta (incluindo este op. 66), pela
pianista Idil Biret.









E já que lá vão dois posts sobre o quarto concerto de Beethoven,

porque não ficar com o terceiro andamento (mais uma vez), desta feita pelo Rubinstein?

Novo disco de Lang Lang

Aqui fica a página especial da Deutsche Grammophon para promoção do novo disco de Lang Lang, que toca os concertos números 1 e 4 de Beethoven, acompanhado pela Orquestra de Paris, dirigida por Cristoph Eschenbach. Na página de promoção há vídeos e excertos.
Pelo que ouvi, isto promete...

Cláudio Arrau - 3.º andamento do 4.º concerto de Beethoven

O chileno Cláudio Arrau foi um dos "pianistas do século". Filho de uma pianista amadora e de um oftalmologista, nasceu em Chillán, em 1903. Morreu em 1991.
A página da wikipedia dele tem mais algumas informações, bem como esta outra.
Fica aqui um cheirinho do mestre, a tocar o terceiro andamento do 4.º concerto para piano de Beethoven.
Embora Arrau não seja o meu "number 1" dos concertos de Beethoven - a honra irá, talvez, para o Serkin - está muito bem aqui. A orquestra é a Philarmonia, creio, com Muti à frente.